Antonio desde pequeno adorava ir às compras. Mas, não era desses que gostava de shopping center ou supermercado. Toni, como era chamado pela família, gostava de farmácias. O visual claro, branco, bem iluminado o agradava muito. Ficava fascinado com os diferentes formatos e cores dos produtos com as mais diversas utilidades.
Certa vez, depois de tanto insistir, convenceu sua mãe a trocar seu Tylenol pela versão genérica do medicamento. Tudo porque via a propaganda de genéricos na televisão. A imensa letra G preta estampada contra a tarja amarela na caixa do remédio chamava mais a atenção do pequeno Toni que qualquer animal fazendo sinal de positivo na embalagem de algum cereal.
Enquanto seus amiguinhos da escola aprenderam a ler com gibis da Turma da Mônica, Toni lia bulas de medicamentos, embalagens de xampus, cremes e outros produtos vendidos na farmácia que tinham em sua casa. O pobre garoto ficava extremamente frustrado quando procurava palavras como Distearyldimonium Chloride no dicionário e não encontrava nada.
O tempo passou e, por não se achar digno da função, não fez faculdade de farmácia. Estudou informática. O primeiro pagamento que recebeu por formatar o computador de seu tio foi gasto na farmácia. Comprou espuma de barbear, Rinosoro, algumas pastilhas para a garganta e um pacote de camisinhas que nunca foi aberto. Com o tempo, suas compras foram ficando cada vez mais sem nexo, propósito e utilidade. Numa mesma ida à farmácia comprou lubrificante íntimo, tinta para o cabelo e remédios para a indigestão. Seu pequeno apartamento já não comportava mais tantos produtos. Toni até passou a falsificar receitas para comprar medicamentos mais pesados.
Até que chegou a um ponto em que esquecia de comprar comida e pagar as contas para comprar qualquer coisa que fosse em alguma farmácia próxima. Foi ficando recluso e ninguém mais teve notícias dele, exceto os funcionários das farmácias que ele frequentava. Começou a tomar o primeiro remédio que via pela frente sempre que sentia fome. Logo começou a perceber as diferenças dos gostos de cada um.
Antonio morreu sozinho, desnutrido, mas feliz. Os anti-depressivos eram seu prato favorito.
Mórbido, irônico e deliciosamente lindo. ♥
ResponderExcluirTrágica obsessão.
ResponderExcluirIncrível seu tema e o jeito que escreve. Fascinada.
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